terça-feira, 17 de março de 2009

Sombras de um suspiro





o leve ondular
do teu magnífico
seio aveludado
como que tocado
por um poeta
e por um anjo
em simultâneo
lentamente apaixonados
doentes de amor
(porque tu
que és bela
e perfeita
como
uma rosa acabada
de desabrochar)
envenenas de morte
quem te toca
o maravilhoso mamilo
suave castanho
erecto
de desejo
numa viagem de morte
com um velho lobo do mar
que de antemão
sabe ir
naufragar
no teu corpo
torneado de pecado
como que bebido
em longos tragos
de rum
ó jovem seio
seio de menina
que as gotas límpidas do teu rum
me tragam
de novo
à vida



ondulam
copos
sobre a tormenta
do balcão
da taberna
é sexta-feira
de madrugada
profunda
desgraçada
mas desejada
perdida
turva
excessivamente turva
as sombras
deitadas ou
reclinadas sobre o balcão
desmaiadas
mal desenhadas
através do nevoeiro
de centenas de cigarros
e da humidade
trazida pela estúpida chuva
vivem o sagrado momento
da náusea e do vómito
que nunca sai
(fruto de vasta
experiência e orgulho)
a tempestade aumenta
os corpos arrastam-se
os bêbedos
e as putas
os copos e as garrafas
uns desalinhados
outros caídos
o barman
quer fechar
descansar
informa várias vezes
depois busca
um grande
taco de basebal
e ameaça
ninguém liga
o ser não
se quer mover
nem um
centimetro
só quer mais um copo
e dormir
dormir muito
por uns segundos
que são o tempo todo
e recuperar
para a próxima
rodada
descansar o corpo desfeito e
maltratado
já sem salvação?
Mas quem quer saber?




De madrugada. Sonhos de ópio. Belos cachimbos, de madeira trabalhada e já muito queimada. Lá fora a tempestade. Á minha volta imagino velhos de pulmões desfeitos. Sangue púrpura e morte. Também há belas mulheres esguias perfeitas desejáveis, que preparam o ópio, a troco de muito dinheiro. Eu já nada tenho, senão o vício e o belo sonho que transforma nuvens de fumo em belos campos de papoilas. Aqui, até a doença é inofensiva e encerra segredos a descobrir, com entusiasmo. À porta da fumerie há belas jovens, muito jovens, quase despidas no meio da chuva e nevoeiro, estão quase nuas, custam muito dinheiro. Ali á frente há mais, mais rascas, mais baratas, mais porcalhonas, provavelmente carregadas de doenças que passarão para mim. Levo uma para o meu quarto. Terá 13, 14 anos de idade? Sabe como tudo se faz, enquanto eu vou bebendo uns goles de uma beberagem qualquer. No dia seguinte acordo quase sem me poder mexer. Levanto-me encharcado em suor, com os ossos a ranger e o sangue enferrujado, contaminado e constato, apavorado que ela, a pequena e linda puta me levou todos os meus objectos de valor. Eu mereço, mas com uma ou duas vigarices ficarei outra vez abonado. Por agora vou fumar uns cachimbos à decrépita e escura fumerie, - onde só se vêm sombras desfeitas de homens alongados pelo chão em velhas esteiras que é onde irão morrer e eu também tenho lá crédito…