quinta-feira, 25 de setembro de 2008

fragmento



Não me interessa a tua realidade, o teu todo. Importam-me os teus fragmentos, as minhas realidades, os meus gostos. Os meus momentos não são, decerto, os mesmos que os teus. Apetecem-me os teus seios, tu, provavelmente, gostarias que desse atenção ao teu ventre. Gosto de captar apenas os teus lábios, hoje não me interessam os teus belos olhos. A visão de conjunto aborrece-me porque é banal, o todo nunca é todo perfeito, pelo menos em determinados momentos. Não me interessa a ideia totalitária representada por um sistema, mesmo que esse sistema seja o corpo de uma determinada e bela mulher, mesmo que a amemos, vamos encontrar-lhe sempre defeitos que, com o tempo se tornam irritações irreparáveis. O belo é o barroco, o ornamento de uns belos lábios, é o pormenor de umas pernas longas e perfeitas, é exagero de um ventre nu e descuidado.


mário rocha, in escritos nómadas


Sem comentários: