segunda-feira, 29 de setembro de 2008

manhã branca






É de manhã muito cedo. O dia acaba de nascer. A luz entra branca, quase parece gelada. Mas o dia cresce quente. Um dia de Agosto. Ela está em cima da cama, pele dourada, sem marcas de fato de banho ou biquini. O corpo nu, tal como os lençóis e os belos cabelos castanhos soltos e despenteados, estão ainda naturalmente desalinhados. Ela dorme ainda, linda, desconhece a beleza do que está a acontecer. Chego perto dela e beijo-lhe levemente os lábios. Maravilhosa, deve sonhar ainda. Naquele momento morreria por saber o quê. Uma morte momentânea é o que me espera quando a Sophie abrir, estremunhada, os belos olhos verdes. Algo que acontece momentos depois. Da janela que dá para o mar entra agora um sol amarelo orrado já quente: de facto e de aparência. O jogo de luz e sombra, sobre os seus seios e ventre perfeitos. O claro escuro daquela imagem persegue-me ainda hoje, alguns anos passados; as sombras nas pregas da roupa alva da cama e do corpo daquela jovem mulher maravilhosa fazem-me desejar a eternidade que, infelizmente, não existe. A não ser, talvez, por momentos – talvez como estes… Apesar de quase acordada, não se mexe ainda. Pisca os extraordinários olhos claros, sorri, mas não diz nada. Naquele momento, eu esperava uma palavra sua. A Sophie, estonteante, na sua sabedoria solar gozava aqueles momentos perfeitos que antecedem a realidade aborrecida. Beijei-a novamente e disse-lhe que a adorava. Acrescentei: “Meu Deus, como és bonita”. Ela sorriu com agrado mas não acrescentou absolutamente nada. Gostava que ela tivesse dito alguma coisa, mas não fiquei triste. Depois daquela noite sabia que ela me amava. E as palavras não têm muito a ver com o amor.

Sem comentários: